TENTE NÃO SER UM NERD TARJA PRETA POR UM SEGUNDO #22


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Jack Kerouac está em evidência. O escritor, para o qual não foi o suficiente ter protagonizado um dos primeiros TENTE NÃO SER UM NERD TARJA PRETA POR UM SEGUNDO [ainda em sua primeira versão] e de um filme [cuja importância palidece frente à linkagem neo-fronteiriça], foi alvo nas últimas semanas de um artigo no Guardian e outro no American Conservative. Não suficiente, uma entrevista para a Paris Review, de 1968 [um ano antes da morte do escritor, provocado pelo consumo excessivo de álcool, aos 47 anos], foi republicada no site da revista.

Escritor aclamado, ídolo de gerações.
Incapaz de impressionar um gato.
O artigo no Guardian, escrito por Dalya Alberge, tem por pretexto o lançamento do livro The Voice Is All: The Lonely Victory of Jack Kerouac, de sua ex-namorada Joyce Johnson. Nele, ambas [assim como Terry Dunford, que escreveu para o New English Review naquele TARJA PRETA mencionado no começo da postagem] se somaram à desmistificação da escrita espontânea de Na Estrada, a obra máxima de Kerouac:

Joyce Johnson, uma escritora reconhecida, também desfaz o mito de que a escrita de Keroacu prescindia de esforço e era espontânea. Enquanto ele afirmou que a o livro Na Estrada foi escrito em uma explosão de energia de três semanas em 1951, ela lembra que ele passou anos revisando o seu trabalho e cuidadosamente cunhou cada parágrafo. [... foi], na verdade, "um processo muito longo ... cada parágrafo tinha que ser um 'poema'".


No American Conservative, Robert Dean Lurie definiu Kerouac como uma espécie de católico não compreendido que se converteu ao budismo – depois, para uma espécie de versão sincrética de tudo isso e mais um pouco. Sobre a primeira parte da frase:

Jean-Louis (“Jack”) Kerouac nasceu em Lowell, Massachusetts, em 1922, filho de imigrantes franco-canadenses. O seu pai Leo, como muitos imigrantes, amava o seu país adotivo com furor. Essa crença na terra das oportunidades permaneceu consigo até mesmo depois que o seu catolicismo dissipasse, diante da devastadora falência de seus negócios. O conservadorismo de Jack, como o deu seu pai, era o conservadorismo dos velhos tempos: do trabalho duro e das bebidas fortes, de grandes famílias operárias passando adiante tradições orais. Acima de tudo, era um conservadorismo do mundo natural: de grandes, sólidas, árvores protetoras, do rugir perpétuo dos rios Merrimack e Concord -- tudo combinando para conjurar aquela ilusão crucial de permanência que, na melhor das circunstâncias, embala e fortalece uma alma em sua jornada para além da infância. Quando adulto, Kerouac diria a William F. Buckley Jr.: "Meu pai e minha mãe e minha irmã e eu sempre votamos por Republicanos, sempre". Isso não tinha nada que ver com plataformas partidárias e tudo a ver com a identidade familiar, em se manter preso a algo, não importa o quão arbitrário, em um mundo que desorienta. Nós somos os Kerouacs e é isso que nós fazemos.

Sobre como isso se encaixa no próprio Na Estrada, e sobre o fato da mensagem não ter sido compreendida pela direita, Lurie diz:

Ele nunca viu o registro imparcial das imprudências de sua juventude como uma licença para que outros caíssem fora da sociedade. Se ele queria mostrar alguma coisa, o triste final de Na Estrada, no qual Kerouac prevê que o frenético e movido-a-adrenalina "Dean Moriarty" (Neal Cassady) acabaria por cair no esquecimento, assim como a seu inabalável retrato de sua própria crise nervosa causada pelo abuso do álcool em seu livro seguinte, Big Sur, era o final inevitável de "uma vida na estrada". Mas Kerouac não deve ter-se surpreendido pela reação da direita; isto não era, no final, uma forma conservadora de escrever. Os livros não seguiam os parâmetros estabelecidos para novelas e, na verdade, não eram novelas de forma alguma, mas algo que críticos conservadores, que não perceberam temais mais profundos como a solidão e a busca por Deus, criticaram como incentivo à delinqüência, enquanto os críticos de todos os tipos reclamaram de seu desleixo incoerência eventual.

Amém?

Lurie cita a própria entrevista que a revista Paris Review republicou em seu site para embasar a sua tese [é verdade que nela Kerouac está em troll-mode]:

ENTREVISTADOR: Como é que você nunca escreveu sobre Jesus? Você escreveu sobre Buda. Jesus não era um cara legal também?
KEROUAC: Nunca escrevi sobre Jesus? Em outras palavras, você é uma fraude maluca que vem para minha casa... e... eu só escrevo sobre Jesus. Eu sou um Everhard Mercurian, General do Exército Jesuíta.

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