MEMÓRIA #8: BERNI WRIGHTSON!



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Não é que MEMÓRIA seja uma seção dedicada apenas a artigos sobre quadrinistas, é o destino que está colocando eles na minha mão. E a referência às FORÇAS DO ALÉM não poderia ser mais oportuna, porque hoje eu tenho uma pá de links antigos sobre BERNI WRIGHTSON.

TÃ-NAAAAAAAN!
  
Existem três motivos pelos quais você pode conhecer Wrightson: [1] Kelley Jones, um dos desenhistas de Batman durante a Queda do Morcego e um dos quadrinistas mais obviamente influenciados por Wrightson – e que, por algum motivo, decidiu ignorar todo o conhecimento anatômico moderno em prol de MÚSCULOS BOLINHA.

I rest my case.
  
[2] O Monstro do Pântano, personagem que, muito embora tenha se tornado conhecido nas mãos de Alan Moore, foi criado por Wrightson e Len Wein [com a colaboração de Joe Orlando]. E [3], o seu estilo gótico, retorcido, hiper-detalhado e inconfundível, que você já deve ter visto em algum desenho do estilo “mulher-indefesa-atacada-por-monstro-do-além”.

É inacreditável que esse homem nunca tenha feito uma
capa de algum disco do IRON MAIDEN.
  
Aos links. No Entre Cómics, você encontra uma biografia de Wrightson bastante detalhada – que pára no exato momento em que ele começa a trabalhar para a DC e explode para os quadrinhos.

[...] o gosto de Wrightson pelo gênero de terror, especificamente os quadrinhos, nasceu cedo. Nas visitas que ele e seus amigos fazem diariamente à loja de guloseimas na qual por duas moedas lhes permitiam ler uns quantos gibis, ele invariavelmente escolhia os de terror, quase sempre publicações da EC. Em seu vício infantil, a maior das vezes nem lê as histórias, já que assim rentabiliza melhor os seus centavos fazendo passar pelas suas mãos várias edições, observando unicamente os desenhos, especialmente os últimos quadrinhos onde geralmente aparece o elemento grotesco e aterrador de forma mais intensa. [...] De todos os autores que desenham essas histórias assustadoras, Berni desfruta como uma criança com as de Graham “Ghastly” Ingels, que depois se tornaria em uma importante influência em seu desenho (o traço fino, as sombras, esse fio de saliva nas bocas abertas...). Duas capas daquela época ficam marcadas na mente do jovem Wrightson, que se sente fascinado pela sensação de horror que delas se extrai: uma de Jack Davis em Tales from the Crypt #43 [...] e a capa de Haunt of Fear #27 (que ironicamente contém uma história de Reed Crandall chamada Swamped), desenhada por Ingels [...].

É como se fosse um perfeito exemplo de leitura saudável para crianças,
só que... é, não, não tem nada a ver com isso. 
  
E já que tocamos no tema de suas influências, nessa entrevista de Wrightson para Jon B. Cooke, na revista Comic Book Artist #5, o próprio enumera mais algumas:

CBA: Você era autodidata?
Bernie: Nunca fui em um curso de artes, mas eu fiz aquele curso de artistas por correspondência e ele era muito bom. Fiz o curso de ilustração que foi criado por Albert Dorne, Robert Fawcett, Norman Rockwell -- de verdade, os caras de ponta -- e os livros de instrução estavam cheios de desenhos desses caras. Você podia ver o processo de trabalho deles.
[...] CBA: O teu trabalho parece fazer uma referência singular ao trabalho do artista da EC Graham Ingels.
Bernie: Não era apenas Ghastly; também era Frazetta e Jack Davis. Eu tive sorte. Eu gostava desses caras das antigas, de ponta. Os cenários que eu desenho vem mais de ilustrações do que dos quadrinhos. Eu mesmo, Kaluta, Jeff Jones -- basicamente todos do Studio -- temos a nossa origem em uma tradição mais antiga de relatos ilustrados. Eu gostava apenas da arte.

Para mais informações, o ponto de referência obrigatório é esse artigo de Javier Alcázar, originalmente publicado na revista Flashback de outubro de 2006, atualmente disponível no site Tebeosfera. Dele, tiro um trecho sobre a criação do Monstro do Pântano:

No ano de 1971, Wrightson estava fazendo alguns trabalhos para a DC e outros para Marvel: capas, histórias curtas, arte-final... Pelos escritórios da National estava pensando em uma história curta que Len Wein tinha escrito para algumas séries de horror. Wein tinha começado a trabalhar no mundo dos quadrinhos em 1968, na National, escrevrendo roteiros junto com o seu amigo Marv Wolfman. Ambos tinham trabalhando antes com Wrightson em algumas histórias publicadas em House of Mystery. Em uma festa organizada por Wolfman, Wein conversou com Wrightson sobre a possibilidade de que esse desenhasse o roteiro. Nesse momento, o desenhista estava muito deprimido porque acabava de se separar de sua última namorada, e em parte gostou do roteiro porque falava desse tipo de sentimentos. Aceitou desenhá-la, sem saber que essa história ia ser publicada na próxima edição, e que devia estar pronta na mesma semana, motivo pelo qual teve que recorrer -- de novo -- a alguns de seus amigos. Conforme Wrightson, ele gostava da história porque tinha "um monstro, pântanos e laboratórios". Se tratava da hq na qual ocorreu a origem de um dos mitos modernos dos quadrinhos de terror, o Monstro do Pântano. No início, a criatura não tinha nome, apenas Wein chamava ela de "o monstro do pântano" e assim acabou dando nome à criatura e à história. Fez o trabalho completo em um final de semana, sendo uma das poucas vezes que usou referências fotográficas. Os seus amigos eram os personagens principais: Mike Kaluta, o vilão; Louise Jones, esposa de Jeff Jones, a garota, e o propio Wrightson, o herói protagonista. TAmbém os seus amigos lhe ajudaram a terminar a história em tempo: Alan Weiss ajudou em alguns quadrinhos da página 2; Jeff Jones fez o desenho a lápis da página 5; Kaluta, alguns quadrinhos da página 6, e Wrightson fez o resto, arte-finalizando tudo para dar à história um aspecto uniforme.

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