MEMÓRIA #7: ALEX TOTH TE ODEIA



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Em 20/7/2011, Howard Chaykin escreveu uma resenha, no Los Angeles Review of Books, sobre Genius, Isolated, biografia de Alex Toth escrita por Bruce Canwell e Dean Mullaney. O livro, no entanto, é mais um pretexto para falar do quadrinista do que o alvo do texto – pra você ter uma idéia, ao livro propriamente dito Chaykin dedica praticamente DOIS parágrafos [o primeiro dos quais serve para FULMINÁ-LO]:

Em Genius, Isolated, como em muitos livros do tipo, Mullaney e Canwell tentam traçar um paralelo entre o trabalho de Toth e o seu transfundo étnico, a sua família, a sua criação e a sua infância solitária. Freqüentemente eu tenho dúvidas sobre essas conexões, e esse é o caso aqui. Talvez exista uma relação direta entre a sua infância como filho único e a sua personalidade adulta, mas quê diabos eu saberia sobre isso? -- isso é trabalho para um psicólogo.

Dito isso, os editores tem um entendimento profundo do ofício dos quadrinhos, e eles inteligentemente levam esse conhecimento a esse meio, freqüentemente mal-interpretado, diminuido e tido por bastardo. Como em seu trabalho anterior, Scorchy Smith and the Art of Noel Sickles — Sickles, não por coincidência, foi uma das grandes influências no traço de Alex Toth -- eles fizeram o seu tema de casa, desencavando os melhores exemplos dos trabalhos de Toth do período [o livro se concentra nos anos 40 e 50], assim como encontrando algumas pérolas que não foram vistas há anos.

Sobre o próprio Toth [que faleceu em 2006: foi encontrado morto por um ataque cardíaco em cima de sua mesa de desenhos], Chaykin tem a dizer que se tratava de um caso de gênio de personalidade difícil. Quanto à parte "gênio", Chaykin diz:

[...] as suas [de Toth] obras têm muito em comum com as de Welles. Como Welles, Toth usava todos os recursos de seu meio -- a linguagem comum das tiras em quadrinhos e das hqs -- e executava ele de uma forma tão profundamente diferente de seus predecessores que o impacto de seu trabalho no que seguiu é incomensurável.

[...] um executivo de um estúdio de cinema, sem um conhecimento básico sobre a história ou mais que um conhecimento casual com o que precedeu o seu próprio tempo, pode ver uma cópia de Cidadão Kane em uma exibição teste, e nela não ver graça nenhuma, já que cada uma das novas idéias que Welles trouxe para as telas em 1941 foi pega e mal-usada um milhão de vezes nos últimos setenta anos da história do cinema. O mesmo pode ser dito, infelizmente, sobre o trabalho de Alex Toth. Enquanto a maioria dos fãs de quadrinhos ignoram a sua assombrosa produção, quadrinistas profissionais entre o final da década de 40 e a manhã de hoje mesmo, absorvem as lições sobre o meio, de seus romances, histórias de guerra e de época. Sem exageros, não passa um dia em meu estúdio sem que eu olhe para algum pedaço de uma hq de Toth.

Howard Chaykin comparou Orson Welles a Alex Toth
sem usar a palavra "barba" nenhuma vez. Por isso que
ele é um escritor.

Quanto à "personalidade dificil", Chaykin cita Gil Kane -- ambos se odiavam. O ponto é Toth era bastante ... apegado as suas próprias opiniões. Você pode conferir a sua veemência tanto falando sobre os quadrinhos atuais [a declaração vem da edição 40 de Dial B for Blog, de Robby Reed]...

Desde que eu nasci em 1928 [...], testemunhei o melhor e o pior do meio... A parte da feia, cruel, vil, banal, retorcida, doentia e sangrenta celebração de tortura, estupro, crueldade, sujeira, demoníaca e papo furado sócio-político -- e morte -- são coisas que me deixam enojado -- e são os nossos mais jovens escritores/desenhistas/editores produzindo em massa esse lixo! Isso é lixo sub-anti-humano, desprovido de qualquer pensamento original ou moral, qualquer valor ético -- é fatalismo sem esperança, niilismo, anarquismo, lixo anti-tudo -- e a maior parte disso tem a audácia de se auto-intitular "adulto" -- "para leitores maduros" -- etc., etc. -- o que é besteira!

Toth, paladino da moralidade.

...quanto sobre quadrinhos pintados [tirada de uma entrevista para a revista Comic Book Artist #11]:

CBA: Você não é um grande admirador dos quadrinhos pintados.
Alex: Não.
CBA: E eu sei porque, então não precisamos conversar sobre isso.
Alex: Você tem certeza que sabe o por quê?
CBA: Sim, é porque não são quadrinhos, são ilustrações.
Alex: Não! Errado! Muito Errado! Poderia ser quadrinhos se aqueles que sabem como pintar também soubessem como contar uma história! Que soubessem o que é ritmo, e não apenas socassem um monta de imagens bonitas juntas em uma página, ou páginas, e chamassem isso de história, continuidade! Não é!

Mas o que é que ele tem a ensinar? Um bom lugar para aprendê-lo é o site TothFans. Nele, você encontra uma seção só com colunas que ele escreveu, dentre as quais essa, na qual desenvolve um pouco a máxima "SEJA PREGUIÇOSO!" – e sem insultar ninguém... pelo menos não muito:

Dickens recebia por palavras -- ele escreveu muitas muitas palavras, assim -- sem surpresas -- não? Quadrinistas são pagos por linhas? Não? Então porque tantas linhas? Hmmm?

Algum motivo como falsificar a forma pela qual se faz um trabalho sobre o qual não se sabe absolutamente nada -- fazendo coisas demais -- para disfarçar as próprias falhas -- ignorância, não se importar o suficiente para aprender como fazê-lo -- antes de fazê-lo! Você pode fugir, mas não se esconder -- da verdade -- sobre mentiras gráficas/visuais! É -- a verdade vai aparecer! Eu espero.

Você não vê na foto: linhas.

 Mark Twain uma vez pediu desculpas para o destinatário de uma carta por ter escrito uma muito longa -- ele disse que não tinha tempo de fazer uma mais curta! É, uma pessoa aprende a subtrair -- ou adicionar -- ao cortar/aprimorar, uma pessoa consegue alcançar melhorias em seu trabalho -- subtrair é muito mais difícil -- e muito mais recompensador -- e muito mais divertido também -- clareza-verdade-o básico!

Um comentário:

Anônimo disse...

"a concisão é irmã do talento" - tchekhov. chega de tantas linhas!