NFN#43




TE DEPRIME AÍ. No Entre Cómics, uma resenha de Jeux pour mourir, de Jacques Tardi [que foi publicado agora na Espanha]:

Em Jogos para Morrer, Tardi demonstra por que é tão fascinado pela obra de Céline, e, se você precisa de alguma outra constatação, acabamos com as palavras do próprio desenhista: "Como diz o pintor interpretado por Le Vigan em Le Quai des Brumes, 'quando eu pinto o mar, vejo os afogados. Quando pinto uma árvore, vejo os enforcados'. Tenho uma visão pessimista das coisas. Atrás de todas as tentativas humanas, de todo esse gasto enorme de energia, não vejo mais que uma coisa: o fracasso.


T'CHALLA. No Comics Bulletin, Daniel Elkin e Jason Sacks discutiram as histórias de Essential Black Panther vol. 1, que inclui a série Jungle Action, onde o personagem foi escrito por Don McGregor [que participa da discussão] e desenhado pelo já falecido Billy Graham [que foi inclusive diretor de arte da editora Warren].

Esse é Don McGregor. Ele escrevia o Pantera Negra em uma série chamada
Jungle Action e claramente não estava nem aí para o que os outros
pensavam sobre qualquer coisa.

Com o cancelamento de Jungle Action [interrompendo uma história em que o Pantera Negra enfrentaria o KKK], o personagem ganhou uma série própria, e McGregor e Graham foram substituídos por ninguém menos que Jack Kirby.

Em duas partes: aqui e aqui.


LENDO ALAN MOORE #3. Mais Tim Callahan, mais Supreme e mais Alan Moore, tudo no Tor. Se você ficou curioso com a cabeça flutuante de Jack Kirby na capa do gibi [lá em cima]:

O tributo de Moore e Veitch a Kirby acaba com a cabeça gigante do Rei dos Quadrinhos flutuando no Espaço Idéia [...]. Enquanto a cabeça gigante de Kirby flutua, diz a Supreme, e nos lembra, que "no mundo das idéias, não existem mãos. Existe apenas a mente. As criações podem apenas brotar de mim".


UM DIA, APENAS FORMADOS EM DIREITO VÃO LER QUADRINHOS #3. No início do ano, Gary Friedrich não apenas perdeu uma ação que ajuizou contra a Marvel, relativa dos direitos do personagem Motoqueiro Fantasma, como foi condenado a pagar o valor que ele ganhou vendendo merchandising do personagem [sem ter a devida licença]. Hoje, Daniel Best [do 20th Century Danny Boy] postou a sua apelação a essa sentença.


O HOMEM SEM MEDO DE SER FELIZ #3. De novo na Espanha, Jesús Jiménez entrevistou Marcos Martín, ex-desenhista do Demolidor de Mark Waid [para a RTVE]:

Principalmente, eu diria que foi a mudança na direção do planejamento da série. Demolidor foi concebido como uma espécie de Homem-Aranha, como um tom mais jovem e piadista, até a redefinição radical que Frank Miller faz com o personagem nos anos 80. A partir de então, a série se torna mais dramática, lançando o personagem em uma espiram de situações cada vez mais trágicas e sombrias [...]

Nessa fase [...], se decidiu que esse planejamento já não dava mais de si, já que, a partir de certo momento, a acumulação de desgraças era tal que já não tinha nenhum efeito sobre o leitor ou sobre o personagem. [...]

Eu gosto da força icônica dos super-heróis e de suas roupas com cores primárias. Por isso, aqui eu tentei me afastar do tratamento mais comum de delimitar as formas com sombras, e optei por uma apresentação mais limpa onde se vê o personagem quase sempre como uma mancha vermelha. Nesse sentido, o meu Demolidor é mais próximo do de Romita Jr. que ao de Colan ou Mazzuchelli, três dos meus desenhistas de referência para a série.

De qualquer forma [...], dediquei mais tempo ao planejamento narrativo, tentando me afastar da minha proposta na série do Homem-Aranha, com cenas de ação longas desenvolvendo-se em poucas vinhetas e transições mais fluídas, para usar transições mais abruptas e violentas, onde a relação entre as imagens que definem uma ação não é tão evidente. Nisso usei mais a referência de Miller, mas, na verdade, é um enfoque mais clássico, de gibi de super-herói de sempre, longe das influências cinematográficas que predominam nos quadrinhos de hoje em dia.

Na foto: mais tragédias do que um personagem
e os leitores são capazes de suportar.

ACADEMICÔ #2. Também foi lançado a primeira edição do SJOCA, Scandinavian Journal of Comic Art. Me puxei nessa. Tem um artigo de Mervi Miettinen sobre Batman: A Piada Mortal, tratando a história como um meta-comentário sobre a continuidade dos quadrinhos e a natureza aberta de suas histórias. Não tem como resumir em um parágrafo só [você realmente deveria ler o artigo], mas eu tentei mesmo assim:

Em Batman: A Piada Mortal, o Coringa se refere ao próprio passado como sendo de "múltiplas escolhas", o que evidencia o seu passado fragmentado, já que as suas origens e ações do passado foram escritas e re-escritas tantas vezes que até mesmo ele não consegue se ficar a par delas [...]. Quem ele é e como ele se tornou o Coringa não é algo claro nem para ele. Essa desorganização não linear que caracteriza o passado do Coringa pode ser lida como um tipo de anarquia textual, uma recusa em seguir os significados tradicionais e as histórias lineares. Um passado de múltiplas escolhas é ambíguo, aberto a novas interpretações, novas leituras do mesmo personagem. Como afirmou Philip Sandifer, o re-contar quase compulsivo da origem do super-herói (ou vilão) dentro das narrativas super-heróicas pode ser visto como uma sintomática repetição da origem traumática que se recusa a permanecer parada no passado histórico, retornando em uma constante repetição de forma a fornecer um centro estável para a narrativa em questão [...]. Em outras palavras, o trauma da origem funciona tanto para caracterizar quanto para motivar o herói e suas ações, e a repetição desse trauma a intervalos regulares remete a narrativa ao "clima onírico" de [Umberto] Eco do sempre-presente, apagando a noção de tempo. A origem do herói (e normalmente do vilão) devem permanecer fixas, já que vão formar "um importante momento de transformação" que vai, então, marcar as futuras ações e aventuras do herói [...]. Em contraste a isso, a origem do Coringa tem múltiplas versões. Isso leva a sua solução, os "passados de múltipla escolha", que podem ser compulsivamente recontados como o do herói, mas, diante de sua natureza instável, não pode oferecer a mesma estabilidade para a narrativa. Em vez disso, questiona toda a estrutura da narrativa expondo a sua natureza fabricada.

[o argumento se apóia em quatro pontos; esse é um deles, escolhido basicamente por que usa uma citação de Umberto Eco que eu transcrevi aqui ontem]

Imagem escolhida apenas com base no fato de que ela é muito legal.


FANTASMA. No Diversions of the Groovy Kind, Rich Buckler [que também desenhou o Pantera Negra] escreveu a sua coluna dessa semana sobre o behind the scenes dos quadrinhos americanos tratando do tempo em que foi desenhista-fantasma de gente como Al Williamson, em personagens como... o Fantasma [você sabe, o espírito que anda].


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