NFN#65




POR QUÊ? + ARTÊ. Depois de divagar sobre a natureza da continuidade nos quadrinhos de super-heróis, Pedro Moura, em seu blogue [Ler BD] resenhou, em uma tacada só, Batman: Earth One [Geoff Johns e Gary Frank] e Batman: Death by Design [Chip Kidd e Dave Taylor].

Sobre o primeiro [o português de Portugal é por conta dele]:

Gary Frank é um desses autores que não só é de uma extrema competência na linguagem normalizada deste género, como tem toda uma série de qualidades perfeitas para este projecto em particular. Se as suas composições de página são mais convencionais com uma contida mas significativa disjunção momentânea dessas fórmulas para maior impacto na diegese, há uma enorme atenção para a expressão emocional dos rostos (demonstrando o quanto deve ao recém-falecido Joe Kubert; e o trabalho de arte-final de Jonathan Sibal ajuda perfeitamente a ancorar essas linhas e essa associação). A também contida gestão das splash pages, de sequências de silêncio (tudo isto, possivelmente, co-planeado com Johns) e a forma como cria ritmos cromáticos de cena em cena (graças ao trabalho de Brand Anderson), torna esta uma obra competente, ainda que pouco diferenciada de outras tantas. Não deixa de haver, porém, momentos algo gratuitos de referência. Se Alfred é, nesta história, veterano da Guerra da Coreia - muitas vezes ausente da memória recente dos norte-americanos, mas que permitiria associações à própria tradição da banda desenhada local, como Darwyn Cooke fez em The New Frontier, remetendo a Harvey Kurtzman-, a presença de uma armadura completa de samurai cumpre em demasia um papel deus ex machina despropositado.

Sobre o segundo:

Há um quase consenso dos leitores e apreciadores do livro que a força deste livro reside na sua matéria gráfica. A elegância de algumas páginas é nítida [...]. O seu trabalho sem tintas, reproduzindo apenas os desenhos a grafite e acrescentando um controladíssimo trabalho de cor digital, mostra como, pelo menos para este projecto, lhe interessará menos uma contínua espectacularização, típica dos super-heróis, mas antes um equilíbrio entre períodos expositivos, de acalmia e explosivos.


ESTELAR. Dave Richards, do CBR, entrevistou Matt Fraction em busca de detalhes sobre a série que esse vai lançar ano, pela Image, com desenhos de Howard Chaykin -- Satellite Sam. Conforme Fraction:

"Existe um arquiteto no qual a nossa história é ligeiramente baseada. Quando ele morre, o seu filho descobre uma caixa cheia de fotos polaroid de mulheres que não são a sua mãe; ele descobre que o seu pai tinha uma vida secreta", Fraction explicou. "Então eu recortei, poli e transformei isso em um suspense policial. Tem alguma coisa muito estranha e sexual e triste sobre ela. Uma caixa cheia de fotos de namoradas do teu pai falecido era uma coisa fascinante e noir para se dar uma olhada e investigar. O mundo da série mora nesse espaço".


VIDA LONGA AO REI #5. Daniel Best, no 20th Century Danny Boy, recuperou um texto publicado na revista FOOM #8: uma mini-biografia de Jack Kirby escrita pelo próprio.

Enquanto eu trabalhava no Capitão América para a Marvel Comics [...], eu estava produzindo em um ritmo furioso. Eu me lembro de reduzir a marcha apenas uma vez, quando um jovem patife, espiando o meu cubículo, sugeriu que eu mostrasse mais da vida familiar do Capitão, a sua velha e gentil mãe, a sua cruel Tia Agatha, e o brilhante e emocionante pano de fundo dos primeiros anos do Capitão. "Cai fora", eu gritei, [...], "se manda e vira um editor ou alguma coisa!". Bom, foi o que ele fez. Mas antes que ele colocasse o nome Stan Lee na porta do seu escritório, eu estava ocupado em outro lugar, com Boy Commandos, Newsboy Legion, Sandman, Manhunter, e outros. O mundo dos quadrinhos estava produzindo heróis, equanto o resto do mundo estava produzindo vilões para combinar. Hitler, Tojo, Mussolini [...]. As coisas ficaram tão ruins durante o período que seguiu Pearl Harbor, que eles finalmente me convocaram. Então as coisas ficaram tão ruins no exército que eles de fato me usaram em uma batalha. Em Metz, na França, sob o comando do General Patton [...], eu fui congelado pelo avistar do avanço dos encouraçados do Field Kitchen Panzers de Heinrich Himmler da Waffen SS [...].


SINISTRO. No Comics Bulletin, Jason Sacks entrevistou Dan Braun, editor da Dark Horse que está por trás dos Archives que a editora está lançando das revistas Creepy e Eerie, as antologias de histórias de terror que a editora Warren publicou nos anos 70 -- e que, por sinal [a pesar da reprodução meia boca da edição], são ouro puro. Estamos falando de histórias de Gene Colan, Neal Adams, Alex Toth, Esteban Maroto, José Maria Beá, Richard Corben, Steve Ditko, Angelo Torres e um longo etc.

Sobre as dificuldades em conseguir os direitos para publicar os Archives, Braun comentou:

Bom, nós começamos ao redor do ano 2000, nós meio que ingenuamente e com muito entusiasmo rastreamos Jim Warren, fomos vê-lo, o encontramos e basicamente fizemos uma oferta muito ingênua para tentar conseguir comprar Creepy para um programa de TV.

Ele basicamente riu da nossa cara, e falou coisas como "Vocês não fazem nem idéia de quem esteve aqui antes. Vocês acham que se eu recusei Spielberg, eu vou dar a vocês uma chance?" e coisas do tipo. Ele estava muito agitado, mas ele também falou "Na verdade, eu gostei de vocês, caras. Voltem quando vocês tiveram uma oferta de verdade". 

"Carash, eu gostei de vocês, carash, 
vocêsh são meus faixas"
-- James Warren, ao redor do ano 2000

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